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Segunda, 01 Junho 2015 13:52

Fornecedores mineiros da Petrobras amargam queda nas vendas e prejuízo

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Os casos de inadimplência gerados por empreiteiras envolvidas na operação “Lava-Jato”, que investiga um amplo esquema de propinas dentro da Petrobras, têm causado prejuízos para fornecedores mineiros da estatal petrolífera, que já amargam forte queda nas encomendas em decorrência do menor volume de investimentos da Petrobras.


No Vale do Aço, onde se realizou um esforço para a instalação de um polo metal-mecânico visando atender às demandas dos segmentos de óleo e gás e naval, empresas acumulam dívidas milionárias relativas a contratos suspensos e compras realizadas, porém não pagas.
A inadimplência das empreiteiras com a compra de materiais afeta 98 empresas no país e a dívida beira os R$ 500 milhões.

De acordo com o diretor de Petróleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado, o último levantamento apontou para R$ 250 milhões de dívidas relativas a materiais entregues e não pagos e outros R$ 150 milhões de encomendas realizadas e suspensas antes da entrega. Esses valores, porém, aumentam com frequência porque surgem casos novos e estariam agora próximos dos R$ 500 milhões.

“Existem casos onde o empreiteiro recebeu da Petrobras e não pagou o fornecedor. Estamos tentando negociar uma solução disso com a Petrobras, que pode pelo menos usar os materiais entregues ao invés de fazer novas encomendas. Mas há uma tendência de contratação de empresas estrangeiras, o que pode piorar ainda mais a situação”, disse.

Encomendas

Pelo menos dois casos foram localizados em Minas Gerais, em Santana do Paraíso e Ipatinga, ambos municípios do Vale do Aço, onde os pátios de empresas acumulam blocos de navios encomendados, mas com sua entrega cancelada e o pagamento suspenso, mesmo após a assinatura do contrato. A via judicial deverá ser o caminho para tentar receber as cifras milionárias.

“Os estaleiros estão atrasando pagamentos e suspendendo encomendas aguardando sinalização da Petrobras sobre seus investimentos. Aqui a inadimplência dos estaleiros já é de R$ 3 milhões”, disse o diretor-presidente da Viga Caldeiraria, Flaviano Gaggiato.

Cortes

A Viga está instalada em Santana do Paraíso, município vizinho a Ipatinga e, em virtude do cenário adverso, também readequou seu quadro de empregados à nova realidade da empresa, que tem 30% dos pedidos oriundos da indústria naval.

Desde novembro do ano passado a Viga demitiu 85 trabalhadores. Empregava 230 profissionais e hoje são 145. “Mesmo antes da ‘Lava-Jato’ a coisa já não estava boa, mas depois do Petrolão, quase parou completamente”, afirmou Gaggiato.

Situada no Distrito Industrial de Ipatinga, a Faceme Industrial, que também fornece blocos de navio para a Petrobras, enfrenta situação semelhante de atrasos de pagamentos.

De acordo com o diretor da empresa, Antônio Moreira, a empresa fechou um contrato de R$ 2,3 milhões com um estaleiro, mas a contratante suspendeu 60% dele. “O valor referente a esse percentual está em aberto e o caminho natural para tentar receber é a Justiça”.

Diversificação

O presidente da regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) no Vale do Aço, Luciano José de Araújo, observou que os esforços e investimentos do setor metal-mecânico voltados para a indústria naval e de óleo e gás visavam diversificar os clientes do segmento, muito concentrados em mineração e siderurgia.

“Fizemos missões à Noruega, assinamos acordos, mas hoje, desde a crise da OGX, de Eike Batista, o que vemos é o aumento do endividamento das empresas aqui instaladas em virtude do não pagamento de encomendas realizadas”.

Acordos internacionais da estatal podem favorecer empreendimentos estrangeiros

Os acordos assinados pela Petrobras com entidades governamentais chinesas para o setor de óleo e gás podem agravar a situação das empresas nacionais que fornecem para a estatal. A Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) dá como certo que esses acordos assinados entre abril e maio, um de US$ 7 bilhões e outro de US$ 3,5 bilhões, têm como contrapartida a aquisição de equipamentos junto ao país asiático. Os acordos, segundo declarações da presidente Dilma Rousseff, abrangem a área de petróleo e gás tanto para refinarias como para estaleiros.

“Nos preocupa essa situação porque é natural que os chineses tenham como contrapartida a esses empréstimos a compra de produtos chineses. O Brasil precisa investir em infraestrutura, mas gerando emprego nas empresas daqui”, disse o diretor regional da Abimaq em Minas Gerais, Marcelo Veneroso.

A Abimaq também pede que a Petrobras tenha uma política mais clara quanto ao conteúdo local em suas compras, uma forma de impulsionar o setor. “O conteúdo nacional no Brasil é uma ficção. As empreiteiras compram materiais no exterior e vendem aqui. Como não há um controle dessa cadeia, isso é considerado conteúdo nacional, mesmo sem ter sido fabricado aqui”, disse José Veloso, presidente-executivo da Abimaq.

O dirigente da entidade também fez críticas ao acordo comercial entre o governo brasileiro e o mexicano, assinado na última semana, quando a presidente Dilma esteve no México. A intenção é facilitar a entrada de empresas mexicanas no Brasil e de firmas brasileiras no México. “Para atingir o maior mercado, que são os Estados Unidos, as empresas vão deixar de produzir no Brasil e ir ao México”, afirmou.

 

Data de Publicação: 01/06/2015

Fonte: Hoje em Dia - https://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/fornecedores-mineiros-da-petrobras-amargam-queda-nas-vendas-e-prejuizo-1.322014

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